80 anos do Colegial: o time que todos queriam derrotar em Florianópolis

Muitos atletas e treinadores já se foram, mas os encontros de ex-jogadores, técnicos e dirigentes da Associação Desportiva Colegial costumam ser uma festa de pessoas que parecem ter se conhecido ontem ou convivido sem interrupção ao longo de várias décadas.

Antigo time de futsal do Colegial – Em pé: Pinto, Domingues, Sarreca, Pedro e Robertinho; agachados: Maurity, Choxo, Alemão e Márcio Werner

Antigo time de futsal do Colegial – Em pé: Pinto, Domingues, Sarreca, Pedro e Robertinho; agachados: Maurity, Choxo, Alemão e Márcio Werner – Foto: Reprodução/ND

No final de julho, uma confraternização com mais de 100 presentes realizada em Florianópolis comemorou os 80 anos dessa verdadeira marca do esporte estadual, que teve sua sede nas dependências do Colégio Catarinense e conquistou centenas de títulos e troféus – e mais, fez dessa ferramenta um caminho para a formação integral dos alunos da instituição de ensino mais do que centenária, criada em 1905.

Tradicional e inserido na história da cidade, passaram pelo Catarinense figuras importantes da política, do judiciário, da indústria e da vida social e cultural de Santa Catarina. Mas foi no esporte, com os times de futebol de salão (o atual futsal), futebol de campo, voleibol, basquete, handebol e outras modalidades, nas categorias mirim, infantil, infanto-juvenil, juvenil e adulta, que o estabelecimento ganhou outro tipo de projeção, que se estendeu pelos campos, ginásios e quadras de todas as regiões do Estado.

Hoje, a octogenária AD Colegial não existe mais, embora o Colégio Catarinense continue estimulando a prática do esporte e mantendo uma estrutura que inclui duas quadras, dois ginásios cobertos e um campo de futebol.

Os ex-atletas e ex-treinadores estão por aí e costumam falar do prazer que foi fazer parte dessa história. Fundado em 25 de março de 1944, o Colegial sempre foi formado por alunos da instituição – a Coordenadoria de Atividades Complementares do colégio calcula que 1.000 deles se envolveram, nessas oito décadas, em atividades ligadas ao esporte.

“Normalmente, os vestiários dos atletas ficavam embaixo das arquibancadas, onde realizávamos o aquecimento antes dos jogos, e sair dali para entrar em quadra, em ginásios completamente lotados, com a torcida vibrando, foi uma das coisas que mais me marcaram”, diz o ex-atleta Luiz Fernando Flores, conhecido entre os ex-colegas como Choxo, que jogou no final dos anos de 1970 e no começo da década seguinte no Colegial.

O empresário José Nazareno Vieira, o Zeno, lembra das viagens em uma Kombi cedida pelo Colégio Catarinense para os deslocamentos das equipes, dos títulos conquistados e da participação dos pais dos alunos, que costumavam ir para outras cidades do Estado com seus próprios carros para acompanhar e apoiar o Colegial nos campeonatos amadores.

“O colégio ainda é meu segundo lar”, afirma Zeno, que foi aluno, professor, atleta e treinador no Catarinense. No mês passado, ele recebeu uma placa como representante de todos os jogadores que passam pelo Colegial em toda a sua trajetória.

Colegial: muitos adversários nos campos e nas quadras

Desde a criação, em 1944, o Colegial teve como adversários, especialmente no futebol de salão e de campo, clubes tradicionais em Florianópolis como o Paula Ramos, o Caravana do Ar, o Avaí, o Figueirense, o Doze de Agosto, o Paineiras, o 6 de Janeiro, o Cupido, o Coração de Jesus, o Besc, o LIC, a Astel, a Elase e a AABB. Além desses, enfrentou times das cidades de Laguna (Flamengo), Blumenau (Olímpico, Hering e Sul Fabril), Palhoça (Guarani), Lages (Caça e Tiro), Videira (Perdigão), Concórdia (Sadia), Criciúma (Cecrisa) e Joinville (Tigre, Consul e Embraco).

Multicampeão, levantou inúmeros canecos em campeonatos citadinos, metropolitanos, regionais e estaduais, além de taças e torneios de verão na Capital. Um dos feitos foi quando o handebol do Colegial disputou o Campeonato Sul-Americano da modalidade, na categoria juvenil, em Iporã (PR), em 1993, sagrando-se campeão e garantido vaga para disputar o Pan-americano no ano seguinte.

As décadas de 1990 e 2000 foram marcantes, com a conquista dos títulos de campeão estadual de futsal juvenil (1997), campeão mirim de futsal (1998), campeão estadual da primeira divisão de futsal adulto (1999) e campeão estadual de handebol mirim (2000). Em 2001, a equipe da AD Colegial representou Santa Catarina na 1ª Olimpíada Esperança, realizada em Poços de Caldas (MG). E em 2004 veio a conquista do título da modalidade de futebol de salão nos 44º Jasc (Jogos Abertos de Santa Catarina).

As décadas de 1990 e 2000 foram marcantes, com a conquista dos títulos – Foto: Reprodução/ND

“Havia muita rivalidade e pressão quando jogávamos em outras cidades do Estado, e o Colegial era sempre o time a ser batido”, diz José Nazareno Vieira, que tem muitas conquistas no currículo e a honra de ter feito dois gols numa final que deu o título estadual ao Colegial.

Amor à camisa e ousadia tática para vencer

Desde 1991 à frente do Instituto Mapa, que realiza pesquisas de opinião e de mercado, José Nazareno Vieira, o Zeno, criou no Colégio Catarinense o primeiro time juvenil que disputou uma competição oficial de futebol de salão no Estado, no final dos anos de 1960, e foi campeão estadual no juvenil como treinador. Ele foi professor de atletas que ganharam projeção até fora do Estado e de gente que hoje ocupa cargos importantes e ostenta posições relevantes na sociedade catarinense.

Zeno recorda que muitos jovens que estudavam no colégio jogavam em clubes da cidade, de onde veio a ideia de formar um time de futebol de salão que ostentasse as cores do Colegial. Ao contrário de muitos casos, o juvenil antecedeu o adulto, mas de cara o time veio forte e conquistou dois vice-campeonatos, perdendo as finais para o Clube Doze de Agosto, também muito competitivo e treinado por Rozendo Lima, um dos maiores nomes do esporte amador de Santa Catarina. Bem antes disso, as disputas do Internato com o Externato, sempre envolvendo alunos do colégio, garantiam disputas ferrenhas no esporte da Capital.

Quando estourava a idade para atuar no juvenil, os atletas eram obrigados a procurar outros clubes. No seu caso, além de ter que sair do Catarinense porque, sem diploma, não poderia continuar dando aulas de educação física, a questão da idade o levou para Clube Doze, onde disputou o campeonato de futsal adulto. O Colegial decidiu então investir na categoria adulto, mas para isso precisava passar por uma divisão de acesso. Mesmo jogando por outro clube, Zeno foi o treinador de futsal do Colegial – e conquistou o título, dando ao time o direito de participar do campeonato adulto da cidade no ano seguinte.

Membros das famílias Fischer, Cavallazzi, Abraham, Ferrari, Guesser, Moritz, Bianchini, Blasi, Capella, Kowalski, Machado e Pessi estão entre as centenas de atletas que atuaram nas diferentes modalidades com que o Colegial brindou os catarinenses. Menção especial é feita a Valcir Moreira, que esteve à frente do Colegial, sobretudo no futsal, durante muito tempo e que até há pouco ainda tentava sensibilizar as autoridades, alertando sobre o preço alto a ser pago pelo descaso com o esporte amador (incluindo o Floripa Futsal) de Florianópolis.

No time vencedor que montou no início dos anos de 1970, Zeno destaca o grande espírito de luta e inovações táticas que surpreendiam os adversários. “Central destruidor, dois alas se movimentando muito em ataques onde, com exceção do central, todos eram artilheiros”, diz ele, falando da estratégia de jogo que adotou como treinador. Como jogador, sempre usou a camisa 7, e como técnico possui no currículo o feito de ter comandado a seleção catarinense que disputou um Brasileiro de futebol de salão.

Ex-atleta coleciona revistas, livros e tudo o que lembra o futebol

Advogado em Mafra, no Planalto Norte de Santa Catarina, Luiz Fernando Flores conta que veio de Tubarão com a família para Florianópolis em 1975, com pouco mais de 10 anos de idade, e que um padre do Colégio Catarinense, onde estudava, viu seu desempenho nas aulas de educação físicas e o convidou para fazer um teste no Colegial. Habituado ao futebol de campo, ele chegou a jogar no Avaí e fez testes para atuar no Grêmio e no Internacional. Conseguiu se adaptar ao futsal, foi muito bem e hoje se orgulha de fazer parte da “família Colegial”.

Choxo, como é conhecido, lembra de colegas que foram para outros clubes e de Remaclo Fischer, que recusou um convite para jogar no Vasco da Gama. Já Chico Lins, hoje comentarista, saiu de Florianópolis para brilhar na Espanha, sempre no futsal. Outra grande figura, Cavallazzi fez história no Avaí, onde se tornou ídolo.

Em sua casa, Choxo mantém uma coleção com cerca de 5 mil revistas de esportes, 700 camisas de futebol, centenas de livros, fotos e objetos que coleciona com carinho. Ele foi aluno de biologia de José Nazareno Vieira e é mais um que destaca a importância do técnico Valcir Moreira para o esporte de Santa Catarina. “Ele era muito exigente, mas sempre nos defendia, foi um paizão para muita gente”, afirma.

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