Entenda o rompimento de Gean Loureiro e Topázio Neto em Florianópolis

O rompimento de Gean Loureiro e Topázio Neto nas eleições deste ano em Florianópolis já era tema de rodas de conversa política e articulação partidária há cerca de duas semanas quando ganhou o público na noite de quinta-feira, dia 27, após um vídeo em que o ex-prefeito critica os rumos da gestão do sucessor e deixou uma pergunta no ar das redes sociais:

“Já aconteceu com vocês de errar em uma escolha, em um voto de confiança.”

O rompimento de Gean Loureiro e Topázio Neto ganhou as redes. Ex-prefeito anunciou no Instagram. Topázio evitou o assunto

Ex-prefeito Gean Loureiro (União Brasil) anuncia nas redes sociais o rompimento com o ex-aliado Topázio Neto (PSD). O atual prefeito não respondeu e postou vídeo sobre o primeiro voo direto de Florianópolis para o Panamá – Foto: Reprodução / ND

Pois para entender o rompimento de Gean Loureiro e Topázio Neto – o criador e a criatura que ganhou vida própria – é preciso voltar no tempo. Mais especificamente para 2020, ano em que Gean Loureiro (ainda no Democratas) seria reeleito prefeito em primeiro turno, com votação histórica, tendo ao lado como vice-prefeito eleito o pouco conhecido empresário Topázio Silveira Neto, em sua primeira disputa eleitoral.

Gean Loureiro partiu como franco favorito para aquela disputa eleitoral com um roteiro muito claro em mente: seria reeleito em Florianópolis e renunciaria em 2022 para concorrer a governador do Estado. Por isso, antes mesmo da disputa eleitoral, a escolha do candidato a vice-prefeito ganhou um peso maior que o normal.

Ficou claro desde o princípio que Gean não pretendia repetir a dobradinha com o então vice-prefeito João Batista Nunes (PSDB, hoje MDB). Abriu uma disputa interna pelo cargo que trazia também nomes como os vereadores Gui Pereira e Roberto Katumi e um empresário pouco conhecido: Topázio Neto.

As pesquisas internas indicavam a preferência pelo figurino do empresário bem sucessido, empregador e discreto como melhor alternativa para composição e até para suceder Gean do que uma figurinha carimbada da Câmara de Florianópolis. Topázio – e seu pequeno grupo político à época – fez os movimentos necessários. Primeiro, filiou-se ao PSB, partido que estava na órbita do então prefeito.

Na reta final, com o PSB mudando de rumo em direção aos antigos amigos da esquerda, Topázio Neto acabou abrigado no Republicanos. E foi escolhido candidato a vice. Na campanha eleitoral, por decisão do marketing, não apareceu: era hora de Gean brilhar.

Gean eleito, Topázio prefeito

Topázio Neto assume a prefeitura das mãos de Gean Loureiro – Foto: Cristiano Andujar/PMF/Divulgação/ND

O roteiro pré-definido por Gean Loureiro seguiu seu curso durante o mandato. O Democratas se fundiu ao PSL e se tornou União Brasil, atual partido do ex-prefeito. Topázio era um vice-prefeito discreto, que se preparava nos bastidores para assumir a caneta. O momento veio em 31 de março de 2022, com um grande ato no plenário da Assembleia Legislativa – maior do que a Câmara de Vereadores para receber tanta gente.

Gean Loureiro renunciou, Topázio Neto era o novo prefeito. Mas continuou discreto. O acordo previa que aos olhos do eleitor catarinense, tudo que fosse ligado à prefeitura de Florianópolis continuasse ligado à figura do pré-candidato a governador.

Nessa transição, Topázio recebeu convite do PSD estadual para ingressar no partido, garantindo a troca de sangue entre a legenda e o União Brasil na disputa de 2022. Gean teria o apoio dos pessedistas e ganhava a prefeitura da Capital. Aos poucos, o novo prefeito caiu no gosto das lideranças estaduais do PSD.

Estava tudo certo, só faltou combinar com o eleitor. Na disputa pelo governo do Estado, marcada pela onda gerada pela candidatura do então presidente Jair Bolsonaro (PL) à reeleição, o PL elegeu Jorginho Mello para o posto. Gean Loureiro seria apenas o quarto colocado no primeiro turno.

Os sinais antes do rompimento de Gean Loureiro e Topázio Neto

Cumprida sua parte no acordo de permanecer discreto durante a campanha eleitoral, Topázio Neto tomou conta da caneta de prefeito depois da derrota de Gean Loureiro na disputa pelo governo estadual.

Através das redes sociais, deixou de ser o empresário desconhecido que entrou na política para se tornar uma personalidade florianopolitana com milhares de seguidores nas redes sociais e muitos prefeitos Brasil afotra querendo copiar a fórmula.

Ainda em 2022, Gean sentiu que o momento era outro ao tentar emplacar o retorno do ex-secretário da Fazenda de Florianópolis, Constâncio Maciel, ao cargo. Ele havia saído para concorrer a deputado estadual, sem sucesso. O ex-prefeito também trabalhou pela nomeação da mulher, Cíntia Loureiro, para o secretariado. O novo prefeito vetou as indicações.

O circulo político de Topázio Neto crescera, incluindo nomes que estiveram em lado contrário a Gean em outras disputas – incluindo gente ligada ao PSD, que trabalhou com o ex-prefeito Cesar Souza Junior. Empoderado partidariamente e fazendo sucesso nas redes, Topázio entendeu que a nomeação de Cíntia e o retorno de Constâncio fariam Florianópolis entender que Gean ainda mandava na prefeitura.

A partir da então, a relação passou a ser de altos e baixos. Em público, Gean minimizava queixas que eram ouvidas nos bastidores. As investigações da Operação Presságio e a prisão do ex-secretário Ed Pereira (União Brasil) – historicamente ligado a Gean, mas renomado por Topázio no final de 2022 – também aumentaram a pressão interna.

As novas companhias de Topázio Neto

As articulações pré-eleitorais do grupo que comanda a prefeitura também fizeram de Gean Loureira coadjuvante de um jogo que costumava protagonizar. Topázio e seu entorno tinham convicção de que a melhor escolha eleitoral para a vaga de vice-prefeito na disputa pela reeleição era o PL do governador Jorginho Mello.

“Tirar o 22 da urna” passou a ser uma obsessão no entorno de Topázio, que privilegiou essa composição em contraposição até mesmo ao PSD estadual, que preferia a estrategia de enfrentamento ao governador nas maiores cidades do Estado.

Nesse contexto, também ganhou peso o MDB, antigo partido de Gean, que não elegeu vereadores em 2020 e que vinha sendo recomposto a partir da articulação do presidente da Câmara de Florianópolis, João Cobalchini (que trocou o União Brasil pelo MDB na janela partidária, em março).

Gean defendia que o União Brasil não fosse descartado logo de cara da disputa pela vaga de vice – ofertando Ed Pereira, inicialmente, e o vereador Josimar Mamá como possíveis nomes. Mais uma vez, não foi ouvido.

Gean Loureiro e Topázio Neto reapareceram juntos na internet – Foto: Reprodução/Internet

O prefeito e o ex-prefeito, no início do ano, chegaram a ensaiar uma renovação do pacto político, com vídeos em parceria sobre continuidade de obras e ações e um jantar de Gean para Topázio em nome do União Brasil. Logo, no entanto, as queixas voltaram – especialmente depois que Cíntia Loureira foi novamente barrada, após ser indicada para assumir a Fundação Rede Solidário Somar Floripa.

Nas últimas semanas, Gean subiu o tom e deixou claro a todos os interlocutores que o fim estava próximo e sem chance de retorno. A quem quisesse ouvir, repetia a frase:

“O meu problema tem nome e sobrenome: Topázio Neto”.

O rompimento de Gean Loureiro e Topázio Neto

O rompimento de Gean Loureiro e Topázio Neto foi deflagrado no dia 19 de junho, em uma reunião ampliada da executiva estadual do União Brasil. O presidente municipal do partido é Constâncio Neto, mas o tom político é dado pelo ex-prefeito.

Nesse encontro, mesmo com a posição contrária dos três vereadores do partido – Dalmo Meneses, Dinho e Mamá -, foi aprovada a decisão de não participar da coligação pela reeleição de Topázio. A reação estadual veio dos três deputados estaduais do União Brasil: Sérgio Guimarães, Jair Miotto e Marcos da Rosa.

O vídeo que explicita o rompimento de Gean Loureiro e Topázio Neto, quinta-feira, veio à público no momento em que o União Brasil estadual mede os movimentos para não desembarcar do projeto em parceria com o PSD, sem perder o ex-prefeito, potencial nome para a Assembleia Legislativa. Uma questão que pode ser resolvida em Brasília.

O gesto de Gean ao dizer claramente nas redes que o sucessor não seguiu seu modelo de administrar e não deu continuidade a programas que marcaram sua gestão, como a Operação Asfaltaço e o Bairro Educador, aponta para a necessidade de queimar as pontes ainda possíveis para retorno.

 

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O que se projeta com o fim da aliança

Se é certeza que Gean e Topázio não sobem mais no mesmo palanque, ainda existem questões a serem resolvidas no espólio dessa aliança. Primeiro, a partir da próxima semana, se ex-prefeito consegue mesmo tirar o União Brasil da coligação pela reeleição de Topázio.

O presidente estadual do partido e deputado federal Fábio Schiochet foi chamado para uma reunião com o bancada estadual e o próprio Gean para discutir o assunto.

O segundo ponto é, com ou sem União Brasil, quem Gean Loureiro apoia. Nas possibilidades, o ex-prefeito, ex-senador e ex-aliado Dário Berger (PSDB) – com quem esteve junto em diversas disputas, mas de quem se afastou em 2020, ano em que Dário apoiou Angela Amin (PP). A outra alternativa, um ex-opositor: Pedrão Silvestre, do PP, com quem ele marcou conversa para segunda-feira.

O terceiro ponto, talvez o mais importante deles, é o quanto Gean Loureiro consegue mobilizar o eleitorado de Florianópolis sem mandato e sem poder legalmente ser candidato a prefeito este ano por ter vencido as disputas de 2016 e 2020.

O efeito do rompimento do Gean Loureito e Topázio Neto é a conta que agora todos fazem: Topázio, Dário, Pedrão e até mesmo os pré-candidatos da esquerda, o deputado estadual Marquito (PSOL) e o ex-vereador Lela Farias (PT), olhando para uma briga de que não fazem parte, mas da qual podem se beneficiar.

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