Skate em Floripa: escolinha na Costeira do Pirajubaé forma skatistas para o Brasil e o mundo

Manezinha do Ribeirão da Ilha, Emily Antunes, 24 anos, patrocinada pela Lost, segue com o símbolo do Avaí no shape, e é uma atleta profissional. Jovem, de origem simples, conhece outros Estados e países sob as rodinhas do skate e diz que o esporte a transformou. Isso foi possível por dois motivos: aventurou-se no presente que ganhou da tia Sola, aos 10 anos.

Emily Antunes representa o Avaí em competições nacionais e internacionais – Foto: Reprodução

E teve o suporte da Ascop (Associação dos Skatistas da Costeira do Pirajubaé). Há mais de uma década, a entidade oferece o “combustível” para que crianças do bairro Costeira, em Florianópolis, e de comunidades próximas, se tornem skatistas profissionais ou profissionais. Dali, saem mais Emilys, ou Joãozinhos querendo ganhar o mundo competindo e erguendo troféus.

“Comecei na pista da Costeira, com 10 anos. O skate era muito mais difícil. Hoje é também, mas era de verdade. Meus primeiros campeonatos foram na Costeira, pela Ascop”, lembra Emily.

Depois, com apoio da associação, disputou em nível estadual e nacional, até ser convidada para os mundiais pela CBSK (Confederação Brasileira de Skate).

“O skate transformou minha vida. Meu primeiro STU [Skate Total Urbe] foi na Costeira. Depois, consegui ir para os próximos, juntar uma grana e o esporte começou a dar mais certo para mim, com toda influência da Ascop no começo e sou muito grata por tudo”, declara.

Entre os lugares que percorreu, Emily menciona a China, a primeira viagem internacional dela, além de Dubai e Argentina.

Presidente da Ascop e coordenador da escola de skate da associação, Daniel Bob, 34 anos, se sente grato vendo onde “a cria” chegou com e quer fazer ainda mais.

A Ascop participa de um edital para receber parte do imposto das empresas, bastando que elas escolham o projeto. Conforme a coordenadora da escola de skate da ASCOP, Iasmin Chacur Fujita, 32 anos, a associação está na parte de captação, para conseguir multiplicar skatistas pela Ilha.

Na Ascop desde 2022, Iasmin explica que as aulas são gratuitas e ocorrem sempre aos sábados, das 16h às 18h. Este ano, mais de 55 crianças já se cadastraram, porém, nem todas treinam seguidamente.

“Todo sábado recebemos gente nova e mostramos que o esporte pode salvar vidas, trazer algo melhor e nem precisa ser profissional, pode-se trabalhar de diversas formas”, frisa.

Escolinha de skate Ascop

Escolinha de skate Ascop – Foto: Reprodução Ascop

Ao todo, são quatro grupos: fraldinha, iniciante, intermediário e avançado. Eles aquecem e aprendem, por exemplo, manobras e como se portar na pista. Os fraldinhas, menores de cinco anos, se aquecem com brincadeiras da infância, como amarelinha.

As aulas seguem a linha do ABC do Skate, instituição que tem mais de 20 anos em treinamento de professores. Além das aulas há um tempo para interação e, no final, o lanche. “É muito importante porque sabemos que, na casa de muitos, às vezes, falta o básico”, afirma Bob.

Aluno das primeiras turmas, hoje professor, João Vitor Abreu, vulgo Joãozinho, 19 anos, é vidrado no esporte.

“Caía, me machucava, sentia raiva, mas levantava e queria acertar a manobra. Na Ascop, fui acolhido. Não tinha peça nenhuma e queria andar, pegava emprestado e andava. Combinava 6h na pista, ficava até 9h e a mãe desesperada: ‘Cadê meu filho?!’”, brinca Joãozinho.

Convidado a ensinar no projeto onde começou, ele se sente honrado. “Feliz por ajudar a evoluir a nova geração. É um pessoal com amor pelo skate e pelo carrinho”, registra João.

“O skate oferece infinitas possibilidades, além das competições, a fotografia, filmagem, música… A gente também sempre mostra o lado da união. É muito mais do que simplesmente manobrar”, complementa Bob.

Mais apoio, mais campeões no skate

Escolinha de skate da associação Ascop, na Costeira – Foto: ascop

Adriano Rebelo tem quase 50 anos, 40 de skate. Cofundador da ABC do Skate e diretor regional da Federação Catarinense de Skate, viu a pista da Costeira e a Ascop nascerem em 2009.

Segundo ele, a ABC buscou capacitar professores e trazer um padrão. “O skate é livre, multidisciplinar, mas como qualquer atividade, precisa de uma base educacional. Oferecemos o curso e sempre temos uma vaga dedicada a entidades sociais, para fomentar a cena e permitir que mais profissionais se capacitem e evoluam no ensino em projetos sociais”, diz.

De forma independente, assim como na Costeira, Florianópolis tem projeto de skate em locais como Trindade, Ponta da Canas e Rio Vermelho, atendendo cerca de 200 crianças por semana.

Para Rebelo, o esporte precisa de mais recurso, das iniciativas pública e privada para ser ainda mais forte.

“Buscamos apoios para ajudar quem trabalha com o skate de forma social. Não adianta só com voluntários, porque eles se dedicam com todo amor e carinho, mas chega um momento que precisam trabalhar e ter rendimento para sobreviver”.

Rebelo acredita que o esporte está no hype, mas que ainda existe um certo preconceito, e que é preciso mais apoio. Ele convida empresas de fora do segmento esportivo e as do Estado a patrocinar os atletas catarinenses.

“Tem pessoas com plena capacidade técnica, andam super bem, mas não conseguem ir adiante pela falta de recursos. Eles precisam de patrocínio para poder representar Florianópolis”, ressalta.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.